segunda-feira, 14 de março de 2016

Quanto tempo se leva para consolidar o hábito de estudar?

Semana passada publiquei aqui um texto sobre plasticidade cerebral e nossa capacidade de nos adaptarmos a novas situações, desde que um estímulo seja apresentado de forma repetida até um novo hábito ser formado.
Leia o post: Um pouco sobre o conceito de plasticidade cerebral e o início de um projeto de estudos
Mas…quanto tempo levamos, em média, para consolidar um novo hábito? Quanto tempo leva o cérebro no processo de adaptação a uma nova forma de se comportar?



 Esse questionamento é muito significativo quando estamos lidando com a preparação para a OAB e concursos públicos, pois o desenvolvimento da rotina é fundamental para a implementação de projetos de aprovação de médio ou longo prazo.


Como sabemos, dar início ao processo de estudos é o passo mais complexo, e manter a rotina só passa a ser uma atividade “normal” quando o cérebro (que não é um músculo, mas não raro é retratado como tal) passa por um processo de adaptação dada a sua capacidade de se amoldar às novas circunstâncias. Esse processo nós chamamos de “plasticidade cerebral”.
Pois bem!
Achei um texto na web tratando exatamente sobre esse processo de adaptação do cérebro a uma nova realidade, a uma nova rotina.
A abordagem foi sobre o livro do psicólogo Jeremy Dean – Making Habits, Breaking Habits: Why We Do Things, Why We Don’t, and How to Make Any Change Stick – intrigado com uma resposta padrão para esta pergunta, amplamente divulgada em sites populares de psicologia e colunas de conselhos: 21 dias.


Dean achou estranho que este prazo servisse indistintamente para todas as pessoas, por mais diferentes que elas fossem e para as mais distintas atividades, como manter a rotina de escrever um diário ou iniciar e manter um regime.
No seu livro, o Dr. Dean abordou de forma científica, através da experimentação empírica, o processo de formação de um hábito. Em uma das passagens da obra ele cita um experimento sobre este processo:
“Em um estudo realizado na Universidade College London, 96 participantes foram convidados a escolher um comportamento cotidiano que queriam que transformassem em um hábito. Todos escolheram algo que não faziam, e isso poderia ser repetido todos os dias. Os participantes se logavam a um site e informavam se tinham ou não se submetido naquele dia ao hábito que haviam escolhido e se haviam ou não agido de forma automática ao comportamento escolhido.O hábito, ou o processo de “agir sem pensar”, revelador da automaticidade do comportamento, ajudou a revelar a verdadeira questão no núcleo da investigação: quanto tempo levou realmente levar para as pessoas a formar um hábito?”
Eis a constatação:
A resposta simples é que, em média, entre todos os participantes que forneceram dados suficientes, demoraram em média 66 dias até a formação do hábito. Como você pode imaginar, houve variação considerável na forma como os hábitos longos demoraram para se formar, dependendo exatamente do que as pessoas tentaram fazer. As pessoas que resolveram beber um copo de água depois do almoço foram atingiram a automaticidade após cerca de 20 dias, enquanto que aqueles que tentaram comer uma peça de fruta junto ao almoço levaram pelo menos o dobro do tempo para transformá-lo em um hábito. O hábito do exercício provou mais complicado, tal como “50 abdominais após o café da manhã,” que NÃO se transformou em um hábito após 84 dias para um participante. “Caminhar por 10 minutos após um lanche”, no entanto, transformou-se em um hábito após de 50 dias para outro participante.
Quando o Dr. Dena resolveu montar gráficos com o desempenho dos voluntários, ele encontrou uma relação (em formato de curva) entre o hábito e o automatismo, significando que as repetições anteriores eram uma espécie de benéfico para o estabelecimento de um hábito, e os ganhos com as repetições foram diminuindo gradualmente ao longo do tempo. A explicação foi a seguinte:
É como tentar correr para cima de uma colina que começa em níveis íngremes e gradualmente vai aplainando. No início você está fazendo um grande progresso para cima, mas quanto mais perto você chegar ao pico, menores os ganhos de altitude a cada passo.
Isso me lembrou imediatamente a aplicação da lógica de Paretto, onde geralmente 20% dos esforços são responsáveis por 80% de resultados. No caso, as partes mais íngremes do gráfico produzem os melhores desempenhos dos participantes, e quando o esforço produz menores ganhos, ao cegarem no topo do gráfico, a sensação de avanço dentro do processo de consolidação do hábito é menor.
Vejam alguns exemplos desta lógica:
a) Uma livraria não pode ter todos os títulos do mercado, portanto ela aplica a regra de Pareto e foca em 20% dos títulos que geram 80% da receita.
b) A maioria dos acidentes de carro ocorre em um número relativamente pequeno de cruzamentos, na faixa da esquerda em determinada hora do dia.
c) A maioria dos acidentes fatais ocorre com jovens.
d) Em vendas comissionadas, 20% dos vendedores ganharão mais de 80% das comissões.
e) Estudos mostram que 20% dos clientes respondem por mais de 80% dos lucros de qualquer negócio.
f) Menos de 20% das celebridades dominam mais de 80% da mídia, enquanto mais de 80% dos livros mais vendidos são de 20% dos autores.
g) Mais de 80% das descobertas científicas são realizadas por 20% dos cientistas. Em cada época, são uns poucos especialistas celebres que fazem a maioria delas.
Para ramos completamente distintos da atividade humano, a lógica se aplica. Para a formação de um hábito, ao se olhar por cima uma das conclusões do Dr. Dean, aparentemente também!
E a desaceleração dos ganhos foi particularmente acentuada entre alguns participantes do experimento, a quem o hábito-formação simplesmente não parece vir de forma natural – tanto assim que o pesquisador foi surpreendido com a lentidão que alguns hábitos levaram para se formar:
“Embora o estudo só cobriu 84 dias, extrapolando as curvas, descobriu-se que alguns dos hábitos levar em torno de 254 dias para formar – a maior parte de um ano!
O que esta pesquisa sugere é que 21 dias para formar um hábito provavelmente está certo, desde que tudo que você quer fazer é beber um copo de água depois do café. Qualquer coisa mais difícil é provável que leve mais tempo para se tornar um hábito muito forte, e, no caso de algumas atividades, muito mais tempo.”
Ou seja: quanto mais complexo for o hábito escolhido, mais difícil é processo de implementá-lo, e a percepção de ganhos, ao menos sob a minha ótica, como vai se diluindo com o tempo tal como a informação sobre os gráficos revelaram, demonstram que o processo precisa de perseverança contínua independente da percepção de progresso dentro do processo.
Muito interessante!
Vamos para a pergunta-chave deste texto: quanto tempo levamos para formar o hábito do estudo?


A resposta é, em um primeiro momento, desestimuladora: não sei!
E não sei porque ela, a resposta, depende de EXPERIMENTAÇÃO. O psicólogo Jeremy Dean precisou de um estudo – que rendeu um livro – para concluir que o processo de formação de uma hábito depende de uma série de variáveis, e o tempo para a formação do hábito de estudo depende, evidentemente, de pesquisa.
Não existe uma resposta pronta!
Mas certas observações podem ser tiradas, e a consciência delas podem ajudar o estudante a formar de forma segura o hábito de estudar.
Vamos a elas:
1 – Considere que o hábito é uma COMPULSÃO. Compulsão deriva, no estudo, do processo de automaticidade, ou seja, da ação independentemente do pensamento voluntário. O hábito está formado quando alguém se desespera por NÃO poder exercer o ato, desenvolver a atividade que chamamos de hábito.
Como vimos no post sobre plasticidade cerebral, a tendência do cérebro é permanecer na inércia. Se o hábito for criado – através de um processo de fuga da inércia – quebrar o hábito formado também implicará em uma dificuldade. Ou seja, uma ver formado o hábito, ele se torna o padrão.
2 – O processo de formação do hábito, caso haja realmente o fornecimento constante do estímulo, acaba por se fixar, mesmo que leve muito tempo.
É preciso perseverar mesmo que no horizonte a fixação do hábito pareça estar longe.
3 – O esforço, ao menos aparentemente, produz mais resultados no início e menos resultado do meio para o fim. Aqui encaixamos a lógica de Paretto. Mesmo que o esforço para a fixação do hábito não esteja, aparentemente, produzindo resultados, a pessoa não deve desistir, pois isso faz parte do processo.
4 – A formação do hábito de estudo possivelmente vai levar um bom tempo, pois se trata de uma atividade complexa, e, tal como vimos, quanto mais complexo for um hábito, mais difícil é estabelecê-lo.
5 – Cada pessoa terá o seu padrão de formação de hábito, pois cada organismo responde de uma forma distinta ao estímulo.
Não sabemos quanto tempo leva para formar um hábito; talvez, neste caso, mais de 200 dias, mas uma vez que temos a ciência de como o processo de formação do hábito ocorre, temos mais consciência do que acontece conosco durante este processo e mais chances de não nos desestimularmos e desistirmos ao longo do tempo.
O cérebro vai batalhar para nos fazer desistir, pois ele tende à inércia. Mas com certeza, após a formação do hábito de estudar, nosso cérebro vai ser o nosso mais importante aliado.
Estudar dói, mas depois passa!
Com informações do site Brainpickings.


 Fonte: Blog Exame de Ordem

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