sábado, 4 de abril de 2015

Uma dose de loucura diária

Por Thiago M. Minagé


O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios. (Manoel de Barros)


Dizem que a loucura caminha de mãos dadas com a inteligência, isso conforta por me fazer entender de onde vêm meus instintos e de alguns amigos que compartilham das mesmas ideias, verdadeiros loucos que flertam esporadicamente com a inteligência. Uns mais, outros menos, mas todos estão no mesmo “barco”, remando sempre contra a maré.

Arrisco mencionar alguns nomes, não desmerecendo os demais, porem certo que estes foram os que mais dialogamos nos últimos meses, ei-los: Alexandre Da Rosa, Alfredo Copetti, André Zanardo, Brenno Tardeli, Diego Bayer, Gerivaldo Neiva, Eric Cwajgenbaun, Gustavo Àvila, João Marcos Buch, Karina Boaretto, Leonardo Marcondes, Leonardo de Paula, Marcelo Semer, Neemias Prudente, Pietro Dellova, Rubens Casara, Salah Khaled, Taysa Matos e, aqueles que ouso chamar de pupilos, tais como: Djeff Amadeus, Jefferson Gomes e João Gabriel.

Todos loucos que se alimentam da necessidade de reverter a incompreensão, pelo repudio à intolerância, pelo desgosto ao abuso do poder, da angustia na dor do injustiçado, da rebeldia em falar, fazer e escrever contra o senso comum, pelo amor ao próximo e principalmente pela sensibilidade que, de alguma forma, sabe que pode contribuir para uma sociedade melhor e fraterna.

Por culpa de todos vocês, muitos tem entendido, um lado oculto, escondido, da visão jurídico/social dos fatos, parte esta evitada por conveniência ou mesmo por pura ignorância, daqueles que em algum momento propagam informações e influenciam a formação de vida das pessoas. Lado este que normalmente é o “resto” são os feios, os desajeitados, os descalços e sujos, que por algum momento ao tentarem sair de seus lugares de origem, surgem como ameaça aos senhores feudais do conhecimento jurídico e para tanto devem permanecer sob controle a todo o momento.

O fato de não se conformarem e lutarem incessantemente, muito me engrandece e motiva, justamente por saber que mesmo em pequeno número, todos continuam firmes na propagação dos ideais. A cada dia me alimento dessa loucura propagada por todos, e talvez por isso ainda esteja aqui.

Que esta loucura seja disseminada a cada texto, aula, palestra, audiência, melhor, onde quer que estejam. É muito bom estar com vocês e, espero que, daqui algum tempo, eu fique páginas e páginas, apenas digitando nomes que vieram agregar ao rol dos loucos. Que de alguma forma tiveram a mente ou coração tocado pelo que vós, escreveram, falaram ou fizeram.

Por isso vejo em todos verdadeiros apanhadores de desperdícios vendo beleza e potenciais justamente nos restos, tão bem colocados por Manoel de Barros.


Thiago M. Minagé é Doutorando em Direito pela UNESA/RJ; Mestre em Direito Pela UNESA/RJ, Especialista em Penal e Processo Penal pela UGF/RJ, Professor da Pós Lato Sensu da UCAM/RJ, de Penal e Processo Penal da UNESA/RJ, Coordenador da Pós Graduação Lato Sensu em Penal e Processo Penal da UNESA/RJ e da graduação da UNESA/RJ unidade West Shopping; Professor visitante da EMERJ (Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro), Membro da AIDP – Associação Internacional de Direito Penal e Autor da obra: Prisões e Medidas Cautelares à Luz da Constituição – publicado pela Lumen Juris. thiagominage@hotmail.com

Fonte: http://justificando.com/2015/01/04/uma-dose-de-loucura-diaria/

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